quarta-feira, 29 de setembro de 2010

História dos Francos

A maioria dos reinos bárbaros formados a partir da destruição do Império Romano do Ocidente teve vida curta. Saxões, visigodos, ostrogodos alamos, burgúndios e outros povos não resistiram às pressões externas e acabaram dominados ou destruídos. Apenas os francos conseguiram se estruturar e fincar raízes na Gália. Depois expandiram seus domínios sobre territórios que hoke correspondem à França, Alemanha, Bélgica, Itália e mais oito países da Europa. A palavra franco vem do alemão antigo frekkr e significa forte, ousado, corajoso. Essas eram exatamente as qualidades que Carlos Magno procurava ostentar como o maior soberano dos francos e grande guerreiro cristão. Por isso, Carlos Magno foi coroado pelo papa Leão III com o título de Imperador na tentativa de resgatar a autoridade do antigo Império Romano.

De todos os povos bárbaros germânicos, os francos merecem especial atenção, pois conseguiram estruturar um poderoso Estado de grande significação na Alta Idade Média européia. Esse Estado franco formou-se e expandiu-se sob o governo de duas dinastias:

Dinastia dos Reis Merovíngios (século V a VIII) - período da formação do reino franco, das suas primeiras expansões territoriais e da aliança estabelecida entre o rei e a Igreja Católica Romana.

Dinastia dos Reis Carolíngios (século VIII e IX) - período do apogeu dos francos, da sua máxima expansão territorial e da tentativa de se fazer ressurgir, sob o governo dos francos, a autoridade de um império universal.

Os Merovíngios

Meroveu foi líder dos francos na primeira metade do século V, chefiando seu povo na luta contra os hunos (Batalha dos Campos Catalúnicos). Por descender de Meroveu, a primeira dinastia dos reis francos é dominado merovíngia.

Em termos efetivos, o primeiro rei merovíngio foi Clovis (neto de Meroveu), que governou durante vinte nove anos (482-511). Clovis conseguiu promover a unificação dos francos, expandiu seus domínios territoriais e converteu-se ao cristianismo católico.

Depois da morte de Clovis, seus quatro filhos dividiram o reino franco, enfraquecendo-o politicamente. Somente com o rei Dagoberto (629-639) houve uma nova reunificação dos francos. Entretanto, após sua morte surgiram novas lutas internas que aceleraram o desmoronamento do poder dos reis merovíngios.

Os sucessores de Dagoberto tiveram seus poderes absorvidos por um alto funcionário da corte, o prefeito do palácio (mordomo do paço) que, na prática, desempenhava o papel do verdadeiro rei. Quando aos reis merovíngios, assumiram uma vida de prazeres e de ociosidade, o que lhe valeu o título de reis indolentes.

No final do século VII, o mordomo do paço Pepino de Herstal (679-714) tornou seu cargo hereditário. Seu sucessor, Carlos Martel (714-741), adquiriu grande prestigio e poder, principalmente depois de conseguir deter o avanço dos árabes muçulmanos em direção à Europa Ocidental.

Foi na famosa Batalha de Poitiers, em 732 que Carlos Martel venceu o emir árabe Abderramã, contando com os esforços da infantaria dos francos. Interrompendo o avanço dos muçulmanos em direção à Europa, Carlos Martel ficou conhecido como o salvador da cristandade ocidental.

Ao morrer, Carlos Martel repartiu seus domínios entre seus dois filhos: Carlomano e Pepino. Em 747 Carlomano entrou para a vida monástica, deixando para Pepino todos os poderes políticos deixados pelo pai. Em 751, Pepino destronou o último e enfraquecido rei merovíngio, Childerico III, e fundou a dinastia carolíngia.

Os Carolíngios

Pepino, o Breve, obteve o reconhecimento do papa Zacarias para o destronamento do último rei merovíngio, que se recolheu a um mosteiro. Eleito rei de todos os francos, Pepino foi abençoado solenemente pelo arcebispo Bonifácio, representante do papa.

Antes de morrer, 768, Pepino dividiu reino entre seus dois filhos: Carlos Magno e Carlomano. Porém, três anos após receber sua parte no reino (771), Carlomano morreu e Carlos Magno tornou-se soberano absoluto do reino franco. Através de diversas guerras, Carlos Magno ampliou os domínios dos francos, apoderando-se de regiões como a Soxônia, Baviera, Lombardia e quase toda a Itália. Suas conquistas trouxeram-lhe prestígio e poder.

Império Carolíngio

A Igreja católica aliou-se a Carlos Magno, pois desejava a proteção de um soberano poderoso e cristão que possibilitasse a expansão do cristianismo. Assim, no dia 25 de dezembro de 800, Carlos Magno recebeu do papa Leão III o título de imperador do Sacro Império Romano.

Foi uma cerimônia pomposa e solene, que pretendia reviver, através do novo imperador, a autoridade do Império Romano do Ocidente, desaparecido em 476 com as invasões germânicas. Desse modo, Carlos Magno foi coroado como legítimo sucessor dos grande imperadores romanos.
A princípio, o Império Bizantino não recolheu o título concedido a Carlos Magno. O imperador bizantino Miguel I exigiu, para dar seu reconhecimento, concessões territoriais da região da Dalmácia e da Ístria.

A Administração do Império

O império Franco não tinha capital fixa. Sua sede dependia do lugar onde se encontrava o imperador e sua corte. De modo geral, Carlos Magno permanecia por maior tempo na cidade de Aquisgrã (Aix-la-Chapelle).

Procurando dar uma organização mais adequada aos usos e costumes vigentes no império, Carlos Magno baixou normas escritas conhecidas como capitulares.

Condes, Marqueses e Missi-Dominici

Carlos Magno criou subdivisões administrativas, encarregando os condes, os marqueses e os missi-dominici de controlá-las.

Cabia aos condes, responsáveis pelos territórios do interior (condados), fazer cumprir as capitulares e cobrar os impostos em nome de Carlos Magno.

Aos marqueses, cabia defender e administrar os territórios situados nas fronteiras do império, isto é, as marcas.

Os missi-dominici, inspetores reais, viajavam por todo o império e tinham plenos poderes para controlar a ação dos administradores locais.

O Beneficium e os Vassalos do Rei

Durante o governo de Carlos Magno, muitas terras do império foram concedidas em beneficium a diversos nobres locais. Esses nobres tornavam-se, então, vassalos do rei, tendo para com ele dever de fidelidade. Por estarem na condição de vassalos diretos do rei, muitos desses nobres se recusavam a obedecer às instruções de autoridade administrativas, como os missi-dominici.

Essa atitude dos nobres foi um importante elemento para a formação da sociedade deudal, com fragmentação do poder nas mãos de diversos nobres senhores de terra, unidos apenas pelos laços de vassalagem.

A Renascença Carolíngia

Guerreiro audacioso, Carlos Magno dedicou-se, durante toda a vida, muito à espada do que ao cultivo do espírito, permanecendo analfabeto praticamente até a idade adulta. Entretanto, na qualidade de administrador, preocupou-se em promover o desenvolvimento cultural do Império Franco, talvez para dar legitimidade à pretendida recriação do Império Romano Ocidental.

Assessorado por intelectuais, como o monge Alcuíno, o bibliotecário Leidrade e os historiadores Paulo Diácomo e Eginardo, Carlos Magno abriu escolas e mosteiros, estimulou a tradução e a cópia de manuscritos antigos e protegeu artistas.

Assim, o período de seu governo foi marcado por significativa atividade cultural, que abrangeu os setores das letras, das artes e da educação. Trata-se da chamada renascença carolíngia, que contribuiu para a preservação e a transmissão de valores da cultura da Antiguidade Clássica.

A Divisão e a Decadência do Império

Ao morrer, em 814, Carlos Magno deixou o poder imperial para seu filho Luís I, o Piedoso, No reinado de Luís I, o Império Carolíngio ainda conseguiu manter sua unidade política, mas após sua morte, em 840, o império foi disputado por seus filhos, numa desgastante guerra civil.

Pelo Tratado de Verdun, assinado em 843, os filhos de Luís I firmaram a paz, estabelecendo a seguinte divisão do Império Franco:

Carlos II, o Calvo, ficou com a parte ocidental, compreendendo a região da Franca atual;

Luís, o Germânico, ficou com a parte oriental, compreendendo a região da Alemanha atual;

Lotário ficou com a prte central, compreendendo regiões que estendiam da Itália até o mar do Norte.

Em cada uma dessas regiões carolíngias foi perdendo o poder, com as sucessivas divisões internas dos reinos. Assim, a ora de unidade política realizada por Carlos Magno não conseguiu sobreviver um século depois de sua morte.

Causas da decadência: crise e invasões

O desmembramento do poder real dos monarcas carolíngios foi acompanhado pela crescente independência e autonomia da nobreza agrária. Houve forte descentralização e fragmentação do poder político, evidenciando a crise interna vivida pelo império.

Depois de um período sem invasões, a Europa cristianizada sofreu uma série de novas invasões, nos século IX e X, em três grande frentes: leste, norte e sul.

Do leste vieram os húngaros (magiares), que promoveram ataques periódicos, saqueando vilas, mosteiros e propriedades rurais.

Do norte ocorreu a invasão do vikings (escandinavos), que, vindos da Dinamarca pelo mar do Norte, lançaram-se em constantes ataques de pirataria locais do litoral europeu. Em 911, o rei franco Carlos, o Simples, cedeu a um dos chefes cikings, Rollon, o território da Normandia. Em contrapartida, Rollon tornou-se vassalo do rei franco.

Pelo sul chegaram os árabes, de religião muçulmanos, que, dominando a navegação pelo mar, Mediterrâneo, lançaram-se em sucessivos ataques de pilhagem e diversas regiões da Itália (Roma, Campânia e Lácio) e as grandes ilhas (Sicília, Córsega e Sardenha).

O renomado historiador Henri Pirenne defende a tese de que o comércio entre Europa e Oriente continuou ativo, ainda que enfraquecido, mesmo com o fim do Impéiro Romano do Ocidente. Só com o estabelecimento do domínio árabe no mar Mediterrâneo é que houve forte retração no comércio europeu-oriental:

"O fato de a expansão islâmica ter fechado o Mediterrâneo, no século VII, teve como resultado a rapidíssima decadência do comércio. No decorrer do século VIII, os mercadores desapareceram em virtude da interrupção do comércio. A vida urbana, que ainda permanecia, graças a esses mercadores, malogrou ao mesmo tempo.

Manifestou-se, então, um empobrecimento geral. O numerário de ouro, herdado dos romanos, desapareceu, sendo substituido pela moeda de prata dos carolíngios. Essa é uma prova evidente do rompimento com a economia antiga caracteristicamente mediterrânea".

A Formação das Sociedades Feudais

O clima de insegurança e de intranqüilidade espalhado pela onde de invasões conduziu os cristãos europeus a construir vilas fortificadas e castelos cercados com grandes estacas.

Todo esse sistema defensivo criado pela iniciativa particular dos nobres de cada região demonstrava a falta de poder dos reis para organizar a defesa da sociedade como um todo. Cada um defendia-se como podia, associando-se a senhores mais poderosos, em busca de proteção. Nesse sentido, as "invasões" assinalaram uma data essencial na formação das sociedade feudais do ocidente.

Fonte:
http://www.historiadomundo.com.br/idade-media/francos.htm

terça-feira, 14 de setembro de 2010








Migrações dos povos bárbaros

Na História da Europa, dá-se o nome de invasões bárbaras, ou período das migrações, ou a expressão alemã Völkerwanderung [fœlkervandəruŋ], à série de migrações de vários povos que ocorreu entre os anos 300 a 900 a partir da Europa Central e que se estenderia a todo o continente. A referência aos bárbaros, nome cunhado pelos gregos e que em grego antigo significava apenas estrangeiro, foi usada pelos Romanos para designar os povos que não partilhavam os seus costumes e cultura (nem a sua organização política),pode induzir alguns leitores, incorrectamente, na hipótese que as migrações implicaram violentos combates entre os migrantes e os povos invadidos. No entanto, a história provou que nem sempre assim foi, já que os romanos também eram chamados de "bárbaros" (estrangeiros) pelos gregos e os povos migrantes já coexistiam pacificamente com os cidadãos do Império nos anos que antecederam este período.

Destacam-se, neste processo, os Godos (originários do sudeste europeu), os Vândalos e os Anglos (da Europa Central), entre outros povos germânicos e eslavos. Os motivos que despoletaram estas migrações em todo o continente são incertos: talvez como reacção às incursões dos Hunos, pressões populacionais ou alterações climáticas.

Os historiadores modernos dividem este movimento migracional em duas fases. Na primeira, de 300 a 500, assistiu-se a uma movimentação de povos maioritariamente germânicos por toda a Europa, colidindo, portanto, com as várias regiões ocupadas pelo Império Romano. Foram os Visigodos os primeiros a eclodir com o Império — na verdade, os Visigodos foram inicialmente contratados para ajudar na defesa das fronteiras do Império, mas mais tarde seriam responsáveis pela invasão da península Itálica; de imediato, seguiram-lhes os Ostrogodos, liderados por Teodorico.

Na segunda fase, entre os anos 500 e 700, assiste-se ao estabelecimento progressivo dos Eslavos na Europa do Leste, tornando-a predominantemente eslava, num movimento iniciado pela ocupação da região da actual República Checa.

Os Búlgaros eram estabelecidos em Europa pelo século II. No século IV parte deles migrou do Cáucaso do Norte a Arménia. Em 632 estabeleceram a Grande Bulgária (Η παλαιά μεγάλη Βουλγαρία nos crónicas romanas) no território entre o Cáucaso e o Danúbio. No século VII Búlgaros migraram também à Baviera, à Península Itálica, à Panónia e à Macedónia. Em 681, o Império Búlgaro expandiu-se nos Balcãs ao sul de Danúbio, e no século IX era o berço do Eslavo Eclesiástico e alfabeto cirílico, que nos séculos subseqüentes foram espalhados aos estados europeus medievais tais como Rússia, Croácia, Sérvia, Valáquia, Moldávia, etc.

Já excluídos do período de migrações, mas ainda na Baixa Idade Média, formam-se ainda movimentos migratórios, nomeadamente o dos Magiares, para a Panónia, e, mais tarde, dos Turcos para a Anatólia e do Cáucaso (século XI), e ainda a expansão dos Vikings a partir da Escandinávia, ameaçando o recém-estabelecido Império Franco na Europa Central, por Carlos Magno. No século VIII, os árabes tentaram invadir o sudeste da Europa, mas foram derrotados por Khan Tervel de Bulgária e pelo imperador bizantino Leão III em 717, e desviaram sua expansão à península Ibérica.


Circunstâncias

Os limites do Império Romano no século IV, portanto já dividido em duas metades (Ocidente e do Oriente), faziam fronteira com várias culturas não romanizadas: na África, os Berberes e as tribos do Sudão, a norte, desde a península escandinava em direcção ao mar Negro, na região além do Reno e o Danúbio, os Germanos, populações tipicamente nómadas. Estes povos foram genericamente designados pelos Romanos como povos bárbaros, numa clara alusão ao facto de não partilharem o mesmo nível civilizacional e costumes de Roma. No entanto, estes grupos já conheciam estes aspectos do império e, inclusive, alguns transitavam livremente para dentro e fora das fronteiras. Várias tribos germanas se instalaram pacificamente no interior do império, chegando mesmo a integrar o exército romano, quer como soldados quer como mercenários, contribuindo reciprocamente na defesa das fronteiras. Este fenómeno ganhou particular dimensão após a crise do terceiro século. Por volta do ano 400, entre trinta e cinquenta por cento do exército romano era composto de mercenários germânicos. Sem outra saída, alguns grupos bárbaros foram alistados no exército de Roma como unidades inteiras para ajudar na defesa contra outros grupos. Isso foi muito popular durante as guerras civis do século IV, quando aspirantes ao trono romano precisavam levantar exércitos rapidamente. Essas unidades bárbaras mantinham seus próprios líderes e não tinham a lealdade e a disciplina das legiões.

Vivendo em solos pouco férteis, os Germanos dedicavam-se, sobretudo, ao pastoreio, embora, à data do contacto com os Romanos, já se dedicassem ao cultivo de cereais. As terras não cultivadas pertenciam à tribo, enquanto que as casas e mobiliário eram propriedade privada; as terras de cultivo eram sorteadas equitativamente de ano a ano entre as famílias, embora no século II este tipo de propriedade passasse a ser propriedade familiar, apenas alienável pelo consentimento de todos os membros da família. Organizavam-se politicamente através de um rei, escolhido de uma família particular (considerada de origem divina), embora a autoridade estivesse formalmente nas mãos de uma assembleia de homens livres e com idade suficiente para usar armas. Nos tempos de guerra, era eleito um general que detinha todo o poder. Por esta altura, os Germanos coexistiam pacificamente com o império: os utensílios e moedas encontrados em túmulos germanos provam a existência de relações comerciais entre as duas civilizações, principalmente nas regiões entre o Elba e o Mediterrâneo, ao longo do vale do Reno, e pelo Vístula e mar Negro.

Durante o século III, os Germanos tomam contacto com o Cristianismo, provavelmente devido aos prisioneiros capadócios levados à região dos Godos. Com efeito, tem-se conhecimento de Ulfila representar, algures no século IV, o grande apóstolo deste povo. Através de Ulfila, os Godos aderem ao Cristianismo na sua forma ariana, considerada herética na altura. Porém, esta vertente cristã ir-se-ia difundir rapidamente entre os Germanos, Vândalos, Gépidas e Alamanos.

As relações entre bárbaros e romanos não se limitavam, contudo, à esfera comercial e cultural: o exército romano ia-se transformando num corpo profissional profusamente incorporado por mercenários que, sucessivamente, ia substiuindo as legiões e a aristocracia chegando mesmo a ingressar na família imperial — um filho de Teodósio II desposou a filha do vândalo Estilicão. A sucessiva falta de mão-de-obra no campo obrigava o império a permitir a entrada destes povos, formando assim assentamentos caracterizados distintamente: os federados, ligados a Roma por um contrato, aos quais era permitida a preservação dos costumes, organização social e política, em troca da prestação de serviço militar. No decorrer do século IV, estes tratados de federação aumentavam substancialmente, na tentativa de vencer a crise que se aproximava.

O progressivo desmembramento do império, aliado ao incremento da corrupção e escassez de meios para controlar e fortificar as fronteiras, levaram à canalização do esforço defensivo para as regiões críticas do Império, como a própria capital. Como consequência, as fronteiras tornavam-se cada vez mais instáveis e, finalmente, devido à pressão dos Hunos oriundos de nordeste, as populações bárbaras adensaram a penetração no império, na tentativa de manterem-se protegidas.

A instabilidade de Roma

A estrutura administrativa do Império Romano dependia fortemente dos tributos que impunha aos novos vencidos: além de uma forma de pagar as despesas da guerra, eram também impostos como medida de benevolência ou castigo pela resistência durante as conquistas. A paralisação das conquistas tinha igualmente paralisado o afluxo destes impostos (que iam diminuindo progressivamente). No século III, tinham já diminuído consideravelmente e no século seguinte já se haviam esgotado.

Na tentativa de contrapor a crise, foi organizado um pesado sistema de impostos, e ditada uma lei que obrigava a hereditariedade das actividades exercidas, o que significa que as profissões eram herdadas pelos filhos do actual funcionário. Os filhos de soldados sucediam os pais nas fileiras, os colonos mantinham-se fixados ao solo que cultivavam. O êxodo urbano dos aristocratas, paralelamente à formação das castas, provocou o surgimento no Ocidente de senhorios rurais, as villae, que constituíram o principal quadro da vida económica e social da época, e antecederam o feudalismo.

No ano 395, o Império Romano foi formalmente dividido duas partes: o Oriente, com as províncias mais ricas e populosas, e o Ocidente, em acelerada decadência. Por esta altura, alguns bárbaros coexistiam pacificamente no interior do império; no entanto, no século V deu-se um afluxo exorbitante de povos em busca de protecção contra os Hunos que se mobilizavam em direcção à Europa latina.

Na Europa Ocidental

Os Hunos

Segundos alguns cronistas chineses, os Hiong-nu (Hunos) seriam povos nómadas que constituíam uma ameaça constante ao Império Chinês. Foi para se proteger dos seus ataques que a dinastia Han (202 a.C.-220 d.C.) construiu a Grande Muralha. Ainda assim, a China do Norte foi devastada e, mais tarde, com a chegada dos novos invasores mongóis, os Hunos deslocaram-se para oeste, abrindo caminho pelas planícies russas derrotando os Alanos e os Sármatas e, por volta de 370, cruzaram o Volga e o Don, confrontando os germanos Ostrogodos, já sedentarizados. O escritor latino Amiano Marcelino descreve o pânico provocado nas regiões invadidas destes homens de pequena estatura e pele escura que, incapazes de se fixarem fosse onde fosse, se deslocavam constantemente, arrastando consigo as famílias, instaladas com todos os seus haveres em carroças.

Depois de se desembaraçar do seu irmão Bleda, o khan (rei) dos Hunos, Átila, inicia o governo das hordas hunas, a partir de 434. O historiador grego Prisco, que teve ocasião de o conhecer pessoalmente numa embaixada, deu destaque à simplicidade e sentido político deste homem, cujas lendas a respeito o caracterizam como barbaramente selvagem.

No século V, os Hunos abandonam o nomadismo, instalando-se nos territórios balcânicos, onde tomam conhecimento do avanço tecnológico o estilo de vida das civilizações helenizadas. Por esta altura, Honória, filha da imperatriz Gala Placídia, decidiu vingar-se do seu banimento pelo irmão Valentiniano III, enviando a Átila uma carta na qual solicita ajuda e que o huno entendeu como uma proposta de casamento. Sabe-se que em 443 chegaram diante de Constantinopla e, em 448, penetram na Grécia até as Termópilas. Para conter os temíveis invasores, Teodósio II foi obrigado a pagar-lhes um tributo anual.

No entanto, sem razão aparente, Átila voltou-se para Ocidente e, em 451 atravessou o Reno, destruiu Metz e Troyes. Por esta altura que surgiu a lenda da Santa Genoveva que incitou os parisienses à resistência. Porém, Átila ignorou Paris e sitiou Orleães, cuja queda lhe permitiu entrar em contacto com o reino dos Visigodos. No entanto, foi Aécio que parou o khan, e que, com a ajuda de Teodorico I, rei visigodo da Aquitânia, conseguiu unir os Romanos, Francos, Alanos e Burgúndios na batalha dos Campos Catalúnicos (junho de 451), forçando os Hunos a uma retirada para a margem oposta do Reno.

Átila refez suas forças e, no ano seguinte, moveu-se em direcção à península Itálica, apoderando-se de Aquileia e devastando Milão, Feltre, Pádua e Pavia, cujas populações se refugiam nos Apeninos. A cidade de Veneza foi fundada por refugiados dessas regiões.[1] O próprio imperador Valentiniano III abandonou Ravenna para se refugiar em Roma. Observando a incapacidade do imperador romano de defender o território, o Papa Leão I confrontou pessoalmente Átila em Mântua numa conversa cujo teor nunca foi descrito, logrando fazê-lo desistir de invadir a cidade em troca de um tributo considerável. Muitos atribuíram o fato de Roma ter sido poupada à intercessão milagrosa do Papa Leão I. Ao que parece, o medo da peste, as superstições de Átila e um compromisso com o imperador Valentiniano III livraram a Roma do saque. Átila morreu em 455, antecipando o colapso do império huno.

Em 463 chegaram à península itálica os Daneses, de seguida os Hérulos e, finalmente, os Ostrogodos liderados por Odoacro (com batalhas em Isonzo e em Verona). Ressalva-se também uma deslocação dos Francos em 594 para o norte de Itália, com violentos confrontos.

Ostrogodos



Derrotados pelos Hunos, parte dos Ostrogodos conseguiu fugir para oeste, aliando-se aos Visigodos, enquanto que a restante passou a integrar, tal como os Alanos e Sármatas, a poderosa cavalaria huna. Também os Visigodos foram derrotados pelos Hunos e, sem escapatória, pediram asilo nas terras do Império Romano, que seria consentido pelo imperador Valente. Dava-se a entrada de todo um povo ameaçado pelos hunos, como prelúdio para as grandes invasões. A penetração foi pacífica, porém os romanos passaram a explorar, de forma sórdida, os visigodos. Estes se rebelaram e surpreendentemente venceram os romanos na Batalha de Adrianópolis (378).

O imperador do Ocidente, Graciano, concedeu terras aos visigodos, adotando uma política amigável que deu certo, até por volta de 406, quando a Itália foi invadida pelos suevos, vândalos e burgúndios.

A 482, Teodorico, rei dos Ostrogodos, conseguiu fixá-los na Mésia, província situada ao norte da península balcânica.


Burgúndios

Estas movimentações foram imitadas por diversos outros povos, dos quais se destacam os Burgúndios, cujos domínios na margem esquerda do Reno foram destruídos pelos Hunos em 437, sendo obrigados a deslocar-se para oeste, na região do alto vale do Ródano, entre Lyon e os Alpes. O rei Gondicário e a maior parte dos seus guerreiros foram chacinados de forma atroz; pensa-se que este facto estará na origem provável dos poemas heróicos dedicados à morte dos reis burgúndios, cujas reminiscências se encontram nos Edas nórdicos. Combinados com a lenda de um herói mítico, Siegfried, os Edas deram origem, no século III, ao Nibelungenlied (Canção dos Nibelungos) e nos quais, já no século XIX, Richard Wagner se inspirou para um ciclo de quatro óperas, O Anel do Nibelungo.

Nos finais do século V, o reino burgúndio estendia-se da actual Borgonha ao baixo vale do Ródano e das Cévennes à Suíça Ocidental. Em 532, foram finalmente submetidos pelos Francos, e o seu território anexado à Nêustria.

Alanos, Suevos e Vândalos

Em 406, os Alanos, Suevos e Vândalos atravessaram a fronteira do Reno. Entre 407 e 409, a Gália foi saqueada por Alanos, Suevos e Vândalos, que logo de seguida (409-411) se apoderaram da Hispânia. Estilicão foi obrigado a chamar as legiões estacionadas na Britânia e na Gália do norte, acabando assim com o domínio romano sobre a Britânia.

Esses povos bárbaros fundaram na África, em 429, o primeiro reino independente em solo do império. Os Suevos seriam empurrados pelos Alanos para noroeste, fixando-se na Galécia, enquanto que os segundos foram etnicamente absorvidos pelos Vândalos em direcção a África. Nesta movimentação, os Vândalos, sob a liderança de Genserico, sitiaram a cidade africana de Hipona, onde morreu Agostinho de Hipona, em agosto de 430, e ocuparam Cirta e Cartago, ao cabo de grande resistência. Apoderam-se em seguida das Baleares, da Córsega, da Sardenha e da Sicília. Potenciados pelas divergências religiosas da sua vertente ariana contra o catolicismo romano, os Vândalos confrontar-se-iam daí para a frente várias vezes com o império, chegando mesmo a saquear Roma, em 455. Em 470, o império mediterrânico dos Vândalos estendeu-se do Norte de África às ilhas mediterrânicas.

A dominação Sueva foi terminada pelos Visigodos aquando da sua invasão bárbara da Península Ibérica, enquanto o reino vândalo foi conquistado por Belisário.